Por Raquel, mãe de Emilly, Bernardo e do eterno João Vitor. Escritora, estudante de psicanálise e mulher em (re)nascimento constante.
Ser mãe na atualidade é um ato de coragem. É uma travessia intensa e transformadora que vai muito além do cuidado físico. É, sobretudo, uma experiência profunda da alma, um mergulho psíquico que, como nos ensinou a psicanálise, toca em camadas inconscientes que nem sempre estamos preparadas para acessar, mas que a maternidade, com sua força arrebatadora, nos faz encarar.
Na minha história como mãe de três — Emilly, 19, minha primeira mestra na arte de amar; Bernardo, 10, meu motorzinho de vida e curiosidade; e João Vitor, que mora no céu e vive em mim — aprendi que a maternidade é um campo fértil para o autoconhecimento. Ela nos desmonta e nos reconstrói, nos confronta com o nosso passado, com nossas sombras e também com nossa capacidade de amar além da lógica.
Freud nos mostrou que ser mãe é, em certo sentido, reviver a própria infância. Com cada fase do filho, algo em nós é tocado: um trauma, uma carência, um afeto esquecido. Por isso, tantas vezes choramos sem saber exatamente o motivo. O bebê chora no berço, e a nossa criança interna também grita por atenção, por descanso, por reconhecimento.
Winnicott falava da “mãe suficientemente boa” — não a perfeita, mas a que falha, que erra, que aprende, e que, mesmo assim, está ali, disponível, afetiva, presente. Essa é a mãe que tento ser: não invencível, mas real. Humanamente real. E espiritualmente guiada.
Porque também sou uma mulher de fé. E minha fé é o fio invisível que me sustenta nos dias em que a culpa grita mais alto, quando o luto me atravessa de novo, quando a exaustão física se mistura à sobrecarga emocional. É Deus quem me lembra, em silêncio: “Você não está sozinha. Estou contigo nessa missão sagrada.”
Ser mãe na era da informação, das redes sociais, da comparação constante, é também resistir. Resistir à ideia de que precisamos dar conta de tudo, ser produtivas, alegres, disponíveis e magras — tudo ao mesmo tempo. A psicanálise me ensinou a escutar o que não é dito. E, muitas vezes, o que as mães não dizem é que estão exaustas. Que estão com medo. Que sentem culpa até quando se cuidam.
Mas a maternidade também cura. Cura porque ensina. Nos obriga a viver o presente, a desacelerar, a olhar nos olhos, a ouvir histórias repetidas, a fazer carinho na cabeça enquanto o filho dorme. Nos ensina que amor não é teoria — é gesto, é presença, é fé em ação.
E os benefícios? São muitos. São invisíveis para o mundo, mas imensamente concretos para a alma. Um filho transforma nossa percepção do tempo, da vida, do propósito. Eles são nosso espelho e também nossa chance de fazer diferente. São nossa herança de afeto para o futuro.
Ser mãe hoje é um ato revolucionário de amor consciente. É não esquecer de si, mas aprender a se reinventar. É não romantizar, mas valorizar. É errar, pedir perdão, recomeçar — e seguir com fé, com afeto e com a certeza de que, mesmo imperfeita, a maternidade é divina. E em meu livro, “Você Pode Viver o Extraordinário” compartilho justamente a resiliência dessa trajetória — e como, apesar da dor da perda, um filho nunca deixa de nos acompanhar.
E assim, sigo sendo mãe, psicanalisanda da vida, escritora de emoções, e mulher conduzida pela graça de Deus.